quarta-feira, 24 de abril de 2013

Você já viu soja enroscada? Conheça aqui!


O Brasil colhe a maior safra de soja de todos os tempos. Estima-se que este ano sejam plantados 26,0 milhões de hectares, com uma produção de 78,0 milhões de toneladas, de acordo com dados da EMATER. Nunca se plantou tanta soja, nunca se produziu tanto. Estaria tudo maravilhoso se não fosse problemas com o sistema de infraestrutura de transportes. Quase que diariamente somos bombardeados pelos noticiários, onde nos informam sobre filas quilométricas de caminhões que estendem pelas estradas, aguardando para descarregar nos portos já superlotados.
Isto tudo seria muito previsível, pois a área cultivada aumentou ano após ano. Não gosto de citar exemplos, mas nessas situações não podemos deixar de lembrar dos exemplos que deram certo. Um exemplo de infraestrutura de transportes que funciona e muito bem, é a dos Estados Unidos da América. Lá, diferentemente daqui, se investiu na construção e na formação de um sistema ferroviário, que é capaz de transportar cerca de 80% da produção industrial dos EUA, ou seja, uma monstruosidade, pois o PIB da maior potência mundial, gira em torno de 15 trilhões de dólares! Só para comparar, a do Brasil, com muito esforço chegou a 2 trilhões em 2012.
Mas o problema das estradas e a falta de infraestrutura portuária andam ligados, historicamente. No auge do complexo cafeeiro, o Brasil, maior produtor e exportador mundial, fez investimentos no setor de infraestrutura de transporte. Isso lá na virada do Séc. XIX para o Séc. XX. A maior parte de nosso café era transportado do Interior dos estados produtores, via férrea (de trem) para os portos onde seriam exportados.
Esse sistema funcionou bem até o fim do ciclo do café, por volta da década de 1930/1940, quando o Brasil sofre influencia externa para se industrializar. A Era Vargas fincou as indústrias de base, abrindo espaço para a entrada do capital internacional na década de 1950. Grandes montadoras internacionais chegam ao Brasil. Ford, GM, Chevrolet e muitas outras aqui se instalaram, e com elas, todo um suporte para produção e consumo industrial.
Os trens e suas ferrovias foram esquecidos. A moda do momento era comprar automóveis, carros e caminhões, incentivar a indústria automobilística, a produção de pneus, filtros, óleos e etc. Na década de 1960, houve uma explosão de construções de rodovias, era o Brasil se tornando um país desenvolvido.
De lá para cá, pouca coisa mudou. O sistema de infraestrutura rodoviário aumentou esdruxulamente. As rodovias construídas há 50 anos ainda hoje, são os maiores corredores de fluxos de pessoas e mercadorias. E o sistema ferroviário? Estagnou. Pior, definhou. Várias ferrovias foram desativadas, pois, desde o término do ciclo do café, eram pouco utilizadas.
Desta forma, hoje, temos uma combinação letal de infraestrutura de transportes para o escoamento da produção agropecuária brasileira. Ela encarece no transporte até os portos (frete, pedágios, pneus, peças) e tudo isso está inserido no custo final das safras agrícolas. Quando a soja chega aos portos, surge outro problema: os terminais de carga e descarga portuários não atendem à demanda. Navios principalmente chineses chegam a esperar até 21 dias atracados no porto de Santos e Paranaguá para carregar (time is money).
Muitos preferem comprar soja de outros países como os EUA, onde nem sempre o produto tem um valor menor, mas devido à rapidez e eficiência no transporte e carregamento, os navios aguardam pouco tempo para carregar e zarpar. Economizando tempo. E tempo é dinheiro em qualquer lugar do planeta.
Para o Brasil, soluções existem, mas é necessário investimentos. Uma alternativa seria revitalizar a infraestrutura de transporte férrea. Reformar as ferrovias abandonadas e construir onde mais se necessita. Sistemas intermodais de transporte seriam necessários, justamente para fazer a junção entre as infraestruturas de transporte, ou sua ampliação. Mas como estamos no Brasil, onde pagamos quase 47% de impostos, nosso querido governo irá dizer que não possui recursos para realizar esses investimentos e passará a bola à iniciativa privada (empresas particulares) que poderão realizar essas obras, mas depois colocarão o seu preço nesses serviços... é a lógica capitalista em ação.
Perspectivas para o futuro...hum, vamos ver... ano que vem a safra de soja será baixa, pois o sistema de transportes não terá como escoar a produção. Países importadores irão cancelar as compras, devido principalmente à demora de carregamento, como já aconteceu esse ano. Então, não se assustem, se de repente tivermos uma produção totalmente voltada para o mercado interno. Produtos que não necessitem de chegar aos portos serão a nova opção. Já imaginou, tomate a R$0,50 o quilo? Quem sabe...

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