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Isto
tudo seria muito previsível, pois a área cultivada aumentou ano
após ano. Não gosto de citar exemplos, mas nessas situações não
podemos deixar de lembrar dos exemplos que deram certo. Um exemplo de
infraestrutura de transportes que funciona e muito bem, é a dos
Estados Unidos da América. Lá, diferentemente daqui, se investiu na
construção e na formação de um sistema ferroviário, que é capaz
de transportar cerca de 80% da produção industrial dos EUA, ou
seja, uma monstruosidade, pois o PIB da maior potência mundial, gira
em torno de 15 trilhões de dólares! Só para comparar, a do Brasil,
com muito esforço chegou a 2 trilhões em 2012.
Mas
o problema das estradas e a falta de infraestrutura portuária andam
ligados, historicamente. No auge do complexo cafeeiro, o Brasil,
maior produtor e exportador mundial, fez investimentos no setor de
infraestrutura de transporte. Isso lá na virada do Séc. XIX para o
Séc. XX. A maior parte de nosso café era transportado do Interior
dos estados produtores, via férrea (de trem) para os portos onde
seriam exportados.
Esse
sistema funcionou bem até o fim do ciclo do café, por volta da
década de 1930/1940, quando o Brasil sofre influencia externa para
se industrializar. A Era Vargas fincou
as indústrias de base, abrindo espaço para a entrada do capital
internacional na década de 1950. Grandes montadoras internacionais
chegam ao Brasil. Ford, GM, Chevrolet e muitas outras aqui se
instalaram, e com elas, todo um suporte para produção e consumo
industrial.
Os
trens e suas ferrovias foram esquecidos. A moda do momento era
comprar automóveis, carros e caminhões, incentivar a indústria
automobilística, a produção de pneus, filtros, óleos e etc. Na
década de 1960, houve uma explosão de construções de rodovias,
era o Brasil se tornando um país desenvolvido.
De
lá para cá, pouca coisa mudou. O sistema de infraestrutura
rodoviário aumentou esdruxulamente. As rodovias construídas há 50
anos ainda hoje, são os maiores corredores de fluxos de pessoas e
mercadorias. E o sistema ferroviário? Estagnou. Pior, definhou.
Várias ferrovias foram desativadas, pois, desde o término do ciclo
do café, eram pouco utilizadas.
Desta
forma, hoje, temos uma combinação letal
de
infraestrutura de transportes para
o escoamento da produção
agropecuária
brasileira.
Ela
encarece
no transporte até os portos (frete,
pedágios, pneus, peças) e tudo isso está inserido no custo final das safras agrícolas. Quando
a soja chega aos portos, surge outro problema: os terminais de carga
e descarga portuários não atendem à demanda. Navios principalmente
chineses chegam a
esperar
até 21 dias atracados no porto de Santos e Paranaguá para carregar (time is money).
Muitos
preferem comprar soja de outros países como os EUA, onde nem sempre
o produto tem um valor menor, mas devido à rapidez e eficiência no
transporte e carregamento, os navios aguardam pouco tempo para
carregar e zarpar. Economizando tempo. E tempo é dinheiro em
qualquer lugar do planeta.
Para
o Brasil, soluções existem,
mas é necessário investimentos. Uma alternativa seria revitalizar a
infraestrutura de transporte férrea. Reformar as ferrovias
abandonadas e construir onde mais se necessita. Sistemas intermodais
de transporte seriam necessários, justamente para fazer a junção
entre as infraestruturas de transporte, ou sua ampliação. Mas como
estamos no Brasil, onde pagamos quase 47% de impostos, nosso querido
governo irá dizer que não possui recursos para realizar esses
investimentos e passará a bola à iniciativa privada (empresas
particulares) que poderão realizar essas obras, mas depois colocarão
o seu preço nesses serviços... é a lógica capitalista em ação.
Perspectivas
para o futuro...hum, vamos ver... ano que vem a safra de soja será
baixa, pois o sistema de transportes não terá como escoar a
produção. Países importadores irão cancelar as compras, devido
principalmente à demora de carregamento, como já aconteceu esse
ano. Então, não se assustem, se de repente tivermos uma produção
totalmente voltada para o mercado interno. Produtos
que não necessitem de chegar aos portos serão a nova opção. Já
imaginou, tomate a R$0,50 o
quilo?
Quem
sabe...
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