Para iniciar nosso texto
de hoje, voltaremos aos primórdios da formação da geografia como
ciência, destacando seus teóricos e suas principais ideias. Entre
seus principais formadores, destacamos o alemão Friedrich Ratzel
(1844-1904). Suas obras foram importantíssimas para a formação da
geografia como ciência, uma vez que até então, eram estudados
vários conteúdos separadamente (geologia, climatologia,
hidrografia, etc), foi Ratzel que uniu esses conhecimentos em uma só
disciplina e ministrou em uma universidade. A geografia já era
estudada há muito tempo, desde meados do séc. XVIII, temos por
exemplo o grande pensador Rousseau, que já ministrava aulas de
climatologia e meteorologia aos seus alunos, pois julgava serem
essenciais para a formação dos indivíduos.
A formação da geografia
como ciência, deve-se sobretudo à formação da Alemanha como
Estado-nação. Até o final do séc. XIX era formada por uma série
de pequenos territórios independentes entre si, não existindo um
centro econômico forte e organizador do território. Liderada pela
Prússia a unificação alemã tinha como principal necessidade
construir um Estado Nacional Alemão, desenvolvido, industrializado e
rico, que pudesse competir com com países que iniciaram a
revolução industrial (Inglaterra e França), assim a geografia
contribuiu para para a unificação alemã e atendeu aos
interesses dos aristocratas prussianos, sobretudo os latifundiários, interessados na unificação e na industrialização.
Nesse sentido a geografia
assume papel importante, pois formava uma identidade territorial,
consolidando nas pessoas o sentimento de possuir uma pátria.
Estimulava-se o nacionalismo, para integrar todo o território.
Inspirado nas ideias evolucionistas de Charles Darwin e influenciado
pelo positivismo, buscava-se “leis” que explicariam o
comportamento dos homens na Terra, assim, Ratzel formulou a Teoria do
Espaço Vital.
Ratzel acreditava que o
meio natural (clima, relevo, vegetação, etc) determinava o
desenvolvimento do homem na Terra, o que chamou de determinismo
geográfico. Estudou as regiões de clima intertropical
(entre os trópicos) e os povos que habitavam nela, sobretudo os
indígenas sul-americanos e outros povos. Esses povos deveriam ser
mais desenvolvidos que todos os outros povos do planeta, pois
habitavam em condições naturais ideais sem secas ou invernos
rigorosos.
No entanto, ao estudar os
povos que habitavam em regiões menos favorecidas climaticamente,
como as populações da maior parte da Europa, ou mesmo
norte-americana, onde o inverno é rigoroso, descobriu-se que estas
populações subsistiam em um ambiente consideravelmente hostil, se
comparado ao clima intertropical, e estavam mais adaptadas ao clima,
possuíam conhecimentos próprios para a sobrevivência, como a
estocagem de alimentos para o inverno, estocagem de provisões para
os animais, construção de moradias mais resistentes, formas de
aquecimento e muitas outras técnicas.
Além disso, outro fator
levado em consideração por Ratzel, era que os habitantes do clima
temperado, utilizavam uma maior quantidade de recursos naturais se
comparado com os povos das regiões intertropicais. Só este fator já
os caracterizava como povo mais desenvolvido. Essa ideia foi bem
recebida, pois nesse momento da história, para um país ser
considerado desenvolvido, seria necessário ser industrializado e
produzir muito. Por isso existia uma relação muito estreita entre
utilizar recursos naturais e desenvolvimento dos povos (na escala
evolutiva).
A Teoria do Espaço
Vital, passa então a fazer parte da concepção social da Alemanha e
sua formação como nação. Para um povo (nação) ser desenvolvido
é necessário produção industrial e para produzir são necessários
recursos naturais. A Alemanha já utilizava todos os recursos
naturais disponíveis em seu território, assim, parte em busca de
recursos naturais disponíveis em outras regiões, onde os povos
menos desenvolvidos não as utilizavam, como por exemplo, na África.
Mesmo chegando atrasada
na partilha da África, a Alemanha conquistou diversas possessões
territoriais nesse continente, formado por “povos menos
desenvolvidos” e sem capacidade para utilizar seus recursos naturais.
Algumas de suas ex-colônias são: Togo, Camarões, África do Sudoeste Alemã e África Ocidental Alemã. Como os outros países industrializados, retirava matéria-prima para sua produção industrial, explorava trabalho escravo e semi-escravo, além de gêneros tropicais que não existiam na Alemanha, como frutas tropicais, café etc.
Com a chegada de Adolf
Hitler ao poder da Alemanha em 1936, a Teoria do Espaço Vital
serviu de base para o arianismo desenfreado e ao antissemitismo.
Hitler exacerbou as qualidades do povo alemão e a conquista por
novos territórios torna-se fundamental. Somente o povo ariano
poderia existir, com a derrota na 1ª Guerra Mundial (1914-1918), e sofrendo as
imposições do Tratado de Versalhes (1919) os alemães são tocados
pelo revanchismo e inicia-se assim, a 2ª Guerra Mundial (1939-1945),
onde a luta pelo espaço geográfico nunca foi tão determinante para
o desenvolvimento de um povo.
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