terça-feira, 23 de abril de 2013

"O Espaço Vital” - Ou de como a geografia auxiliou na formação do nazismo


Para iniciar nosso texto de hoje, voltaremos aos primórdios da formação da geografia como ciência, destacando seus teóricos e suas principais ideias. Entre seus principais formadores, destacamos o alemão Friedrich Ratzel (1844-1904). Suas obras foram importantíssimas para a formação da geografia como ciência, uma vez que até então, eram estudados vários conteúdos separadamente (geologia, climatologia, hidrografia, etc), foi Ratzel que uniu esses conhecimentos em uma só disciplina e ministrou em uma universidade. A geografia já era estudada há muito tempo, desde meados do séc. XVIII, temos por exemplo o grande pensador Rousseau, que já ministrava aulas de climatologia e meteorologia aos seus alunos, pois julgava serem essenciais para a formação dos indivíduos.
A formação da geografia como ciência, deve-se sobretudo à formação da Alemanha como Estado-nação. Até o final do séc. XIX era formada por uma série de pequenos territórios independentes entre si, não existindo um centro econômico forte e organizador do território. Liderada pela Prússia a unificação alemã tinha como principal necessidade construir um Estado Nacional Alemão, desenvolvido, industrializado e rico, que pudesse competir com com países que iniciaram a revolução industrial (Inglaterra e França), assim a geografia contribuiu para para a unificação alemã e atendeu aos interesses dos aristocratas prussianos, sobretudo os latifundiários, interessados na unificação e na industrialização.

Nesse sentido a geografia assume papel importante, pois formava uma identidade territorial, consolidando nas pessoas o sentimento de possuir uma pátria. Estimulava-se o nacionalismo, para integrar todo o território. Inspirado nas ideias evolucionistas de Charles Darwin e influenciado pelo positivismo, buscava-se “leis” que explicariam o comportamento dos homens na Terra, assim, Ratzel formulou a Teoria do Espaço Vital.

Ratzel acreditava que o meio natural (clima, relevo, vegetação, etc) determinava o desenvolvimento do homem na Terra, o que chamou de determinismo geográfico. Estudou as regiões de clima intertropical (entre os trópicos) e os povos que habitavam nela, sobretudo os indígenas sul-americanos e outros povos. Esses povos deveriam ser mais desenvolvidos que todos os outros povos do planeta, pois habitavam em condições naturais ideais sem secas ou invernos rigorosos.

No entanto, ao estudar os povos que habitavam em regiões menos favorecidas climaticamente, como as populações da maior parte da Europa, ou mesmo norte-americana, onde o inverno é rigoroso, descobriu-se que estas populações subsistiam em um ambiente consideravelmente hostil, se comparado ao clima intertropical, e estavam mais adaptadas ao clima, possuíam conhecimentos próprios para a sobrevivência, como a estocagem de alimentos para o inverno, estocagem de provisões para os animais, construção de moradias mais resistentes, formas de aquecimento e muitas outras técnicas.

Além disso, outro fator levado em consideração por Ratzel, era que os habitantes do clima temperado, utilizavam uma maior quantidade de recursos naturais se comparado com os povos das regiões intertropicais. Só este fator já os caracterizava como povo mais desenvolvido. Essa ideia foi bem recebida, pois nesse momento da história, para um país ser considerado desenvolvido, seria necessário ser industrializado e produzir muito. Por isso existia uma relação muito estreita entre utilizar recursos naturais e desenvolvimento dos povos (na escala evolutiva).

A Teoria do Espaço Vital, passa então a fazer parte da concepção social da Alemanha e sua formação como nação. Para um povo (nação) ser desenvolvido é necessário produção industrial e para produzir são necessários recursos naturais. A Alemanha já utilizava todos os recursos naturais disponíveis em seu território, assim, parte em busca de recursos naturais disponíveis em outras regiões, onde os povos menos desenvolvidos não as utilizavam, como por exemplo, na África.

Mesmo chegando atrasada na partilha da África, a Alemanha conquistou diversas possessões territoriais nesse continente, formado por “povos menos desenvolvidos” e sem capacidade para utilizar seus recursos naturais.

Algumas de suas ex-colônias são: Togo, Camarões, África do Sudoeste Alemã e África Ocidental Alemã. Como os outros países industrializados, retirava matéria-prima para sua produção industrial, explorava trabalho escravo e semi-escravo, além de gêneros tropicais que não existiam na Alemanha, como frutas tropicais, café etc.

Com a chegada de Adolf Hitler ao poder da Alemanha em 1936, a Teoria do Espaço Vital serviu de base para o arianismo desenfreado e ao antissemitismo. Hitler exacerbou as qualidades do povo alemão e a conquista por novos territórios torna-se fundamental. Somente o povo ariano poderia existir, com a derrota na 1ª Guerra Mundial (1914-1918), e sofrendo as imposições do Tratado de Versalhes (1919) os alemães são tocados pelo revanchismo e inicia-se assim, a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), onde a luta pelo espaço geográfico nunca foi tão determinante para o desenvolvimento de um povo.

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